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A sensualidade não é um convite

  • nanesmariana
  • 3 de set. de 2023
  • 4 min de leitura

Atualizado: 4 de jul. de 2024

Percebi que assumir a minha sensualidade é bastante desafiador e que, muitas vezes, busco formas de fugir dela ou não consigo sustentá-la sem me sentir mal. Comecei a observar minhas sensações ao postar foto bonita com o corpo à mostra ou com um jeito mais sedutor, por exemplo, e sinto receio da exposição e medo de julgamentos em vários sentidos. Como mulher, inserida em uma sociedade extremamente machista e misógina, por mais que eu esteja sempre me trabalhando internamente para ressignificar a minha relação comigo mesma e, principalmente, com o meu corpo, a verdade é que ainda me sinto muito desconfortável me expressar nesse contexto.

Percebo que essa dificuldade vai muito além de autoestima e que, frequentemente, outras mulheres também sentem o mesmo que eu. Pra mim esse desconforto é fruto da culpa ao se apropriar de si, de celebrar a própria beleza e exaltar a si mesma, já que as mulheres na sociedade são colocadas no lugar de inferioridade, de serviço e que não podem ter autonomia. Nos sentimos culpadas quando nos amamos e nos achamos bonitas, e normalmente somos até consideradas como “o tipo que não se valoriza” sob uma perspectiva masculina completamente auto-referente. Seria exatamente o contrário: uma mulher que é dona de si e não está sob o condicionamento alheio. É como se só os outros (homens) tivessem poder sobre nós. Quando isso parte de nós mesmas, corremos um grande risco de sermos censuradas.

Todo esse tabu relacionado ao corpo me entristece porque sensualidade é pura potência de vida, é pura beleza. É fertilidade e florescimento! Deveria ser celebrada e admirada. Um dos maiores símbolos da beleza são as flores, que são exatamente a parte da planta - mais sedutora e bela - relacionada à reprodução. Que simbólico, não? Sensualidade é muito além de erotismo. Precisamos ser sensuais no trabalho para conquistar clientes, a sensualidade do carisma é o que nos permite a conexão com outras pessoas e precisamos da libido como energia psíquica para ter criatividade e vitalidade. A sensualidade também é a celebração da existência, o prazer de viver e de ser quem se é. Não deveríamos lidar como um fruto proibido, como algo errado.

A negação da sensualidade é fruto de uma sociedade com sexualidade reprimida, que se projeta de forma deturpada diante dos corpos alheios. Para a mulher, que é a parte vulnerável na sociedade dominada pelo macho, além de lidar com seus bloqueios com a própria expressão pessoal, ainda precisa lidar com as ameaças de violação. O corpo mulher é lido como objeto de consumo e propriedade do homem, portanto qualquer exibição se torna para eles um convite de invadirem esse corpo que se mostra, que é visto. Vivemos na corda bamba entre lutar para sermos livres e para nos proteger das violações de nosso corpo-templo sagrado.

No final das contas não existe um manual e temos que viver sempre um jogo interno e externo que flutua entre expressão e autopreservação, diante das circunstâncias e ambientes que estamos e também do quanto de tensão damos conta de sustentar no momento. Às vezes estamos nos sentindo fortes o suficiente para bancar qualquer tipo de enfrentamento, às vezes estamos mais vulneráveis e precisando de cuidado e proteção; então a exposição pode nos abater e o melhor a fazer é se preservar - por mais errado que seja estarmos expostas a essas situações de abuso.

Mesmo quando sofremos julgamentos de outras mulheres ao expor nossa beleza, nossos corpos, acredito que é uma consequência da competição inconsciente imposta pela sociedade e da repressão que sofremos em nossos contextos pessoais. É como se o pensamento fosse “se eu não posso, você também não pode”. Mas isso só alimenta ainda mais o machismo e nos torna ainda mais reféns dessa crueldade com o corpo feminino. O que a sociedade prega com isso é a eterna submissão das mulheres à opinião alheia, e quem ganha com isso sempre são os homens que nos mantêm à serviço, que estimulam a disputa entre nós. Eles que tem que ser os protagonistas sempre; nós, nunca.

Além de todos esses atravessamentos na questão da autoestima e autonomia do corpo feminino, que já é bastante coisa, acredito também que as pessoas em geral se incomodam com a LIBERDADE. Na verdade todo mundo tem vontade de se sentir livre pra fazer o que tem vontade sem culpa, pra (se) amar sem medo do julgamento. Mas pouc@s conseguem enfrentar as consequências dessa liberdade, porque ela pode custar caro. O preço pode ser de ser taxada de vulgar, de ser tratada do jeito que não quer e que não merece, de ter seu corpo invadido sem convite e sem consentimento. Incomoda quando escancaramos para o mundo a coragem que as outras pessoas não têm: de ser quem somos sem nos preocupar com o julgamento. No final das contas, quem julga queria ter a mesma coragem de ser livre, de ser feliz de verdade.

Acredito muito no amor-próprio como ferramenta de autonomia e independência emocional das mulheres. Um passo importantíssimo nessa jornada é amar nosso corpo, seja ele como for: gordo, magro, musculoso, com manchinhas, flácido. É usar a roupa que gostamos sem pensar se vão nos achar "piriguetes" ou puritanas. É nos sentir lindas, é sim esbanjar nossas potências como celebração à beleza que somos. Ninguém tem o direito de dizer o que é bom pra nós, como deve ser nosso corpo, o que temos que fazer com ele ou como devemos nos comportar. Chega de terceirizar a nossa vida para quem sempre vai nos julgar - e subjugar.
 
 
 

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