O que a arte - ou o artista - tem a nos ensinar sobre coragem

Estava vendo um vídeo que gravei de um artista de rua tocando na sanfona uma música belíssima da trilha sonora do filme Amelie Polan. A música, por si só, já é muito emocionante, mas o gatilho da emoção foi muito além do som. Fiquei refletindo sobre a poesia daquele momento e me dei conta da potência que é o artista exercer a sua arte - afinal, a arte é a própria manifestação da alma - e do quanto podemos aprender com isso independente de sermos artistas (de fato) ou não.

Artista é um guerreiro. Doa pro mundo a sua arte desnudando a alma pras pessoas, expressando quem é e o que é importante pra ele. O artista expõeo que possui de mais íntimo e precioso sob o risco de ser duramente criticado ou, ainda, ignorado ou desprezado.

Imagina o quão difícil é você doar o que tem de mais precioso na sua alma e receber rejeição, indiferença ou críticas depreciativas?Sabemos muito bem que, na sociedade em que vivemos, as pessoas em geral são completamente insensíveis e de valores deturpados e duvidosos. Não tem valor o que tem alma, mas sim o que possui algum poder aquisitivo ou que pode ser útil de alguma forma.

Mas pro artista vale a pena arriscar se desnudar assim, vale a pena expressar a sua arte e se entregar a ser quem ele é, porque acima de qualquer coisa ele está agindo com o coração - o significado da palavra coragem é exatamente agir com o coração. Pois é. Artista é um guerreiro corajoso.

Trazendo esse contexto pra vida, é bem parecido. Por isso muitas vezes performamos personalidades que não são a nossa, achando que assim seremos aceitos, amados, admirados, pertencentes. Uma baita furada, pois, além de não conseguirmos fugir de nós mesm@s, nunca agradaremos a tod@s e é impossível ser feliz sendo outro além de quem somos em essência.

Que possamos nos inspirar com a arte e com a entrega dos artistas, com a sensibilidade, com a coragem, humildade, despretensão, entrega, que tenhamos fé no nosso propósito e em nós mesm@s. Que sejamos fortes para sermos fieis à arte desafiadora de ser quem somos, que exige muita coragem - e coração.

"Eu me apresento em outros lugares, mas é aqui que me realizo, é aqui que sou feliz. Sou artista de rua há 16 anos. O que eu gosto é dessa troca, dos olhares, das conversas. Fico feliz de ver a generosidade das pessoas. Não quero sair das ruas nunca." Foi isso que ele me falou.

Que a gente também dê valor às coisas verdadeiramente valiosas da vida: aos olhares, às trocas, à arte, ao propósito, à alma.